terça-feira, 13 de outubro de 2009

O pecado do sucesso ou: é pop, então não presta!



Tom Jobim sabiamente disse certa vez que fazer sucesso no Brasil era tido como um pecado e uma afronta. Tudo bem, a gente sabe que nem tudo que faz sucesso por estas terras tem lá sua qualidade. Mas existem os casos de muitos artistas e bandas bons mas que, por fazerem sucesso demais, por terem um público grande e tocarem em certas rádios,acabam sendo execrados por uma corrente que uma comunidade do orkut definiu como os "portadores da síndrome de underground".
Abaixo a descrição da dita-cuja (é um tanto agressiva, mas certas coisas ali correspondem à realidade):
"Comunidade destinada as pessoas que simplesmente não suportam essa Síndrome que afeta fãs medíocres de bandas quase-famosas ou quase-desconhecidas, se preferir, ou mesmo contra os adeptos da elitização cultural.
Essa síndrome caracteriza-se por deixar alguns "fãs" inquietos, ansiosos, indignados ou desesperados pela simples possibilidade de sua "bandinha favorita" sair do anonimato.
Sintomas característicos:
"PORRA MEU, PASSO O CLIPE DELES NA MTV, QUE MERDA"
"BLEH, TOCOU UMA MÚSICA DELES NA RÁDIO"
"BAH, ERA O QUE FALTAVA TODO MUNDO OUVINDO ELES POR AÍ"

Algumas pessoas não conseguem juntar numa mesma frase as palavras "pop" e "qualidade". Simplesmente acreditam que, se é pop, então não presta. Se agrada a muitos, "então tô fora". Cara, me desculpem os que pensam dessa maneira, mas isso é uma mentalidade muito tacanha.
Convém esclarecer: estou me referindo aqui como "pop" o que é popular, o que agrada a muitos, o que "cai na boca do povo". Nesses termos até as bandas mais pesadas podem ser incluídas - basta ter uma legião de fãs e ter vendido milhões de discos. Não vou citar quais são. Vocês vão ter que adivinhar...
É necessário esclarecer isso logo de cara porque existem duas acepções para essa palavra: o pop como tudo aquilo que faz ou acaba fazendo sucesso e o estilo chamado de pop (feito pra fazer sucesso).
É fato que muito lixo vendeu e vende muito. Mas existem algumas coisas boas por aí. Por exemplo: o Skank é uma banda com um monte de sucessos e é uma boa banda. Nando Reis tem dezenas de hits na voz de outros artistas e na sua, e suas canções passam muito longe de serem ruins ou medíocres. Mas o fato destes, e outros, terem canções "na boca do povo" faz com que "a galera da síndrome" os menospreze.
Acredito que, se o artista tem talento, ele merece ser reconhecido. Mas não é bem isso que acontece...
De uns anos pra cá (da dácada de 1990, especificamente), a maior parte das "canções" que frequentaram as paradas eram tolas e totalmente descartáveis, o que provavelmente contribuiu para gerar (ou piorar) a síndrome. Há também o caso de quando alguém bom chega ao mainstream, seus fãs dos tempos do underground ficarem receosos de que a pressão da (decadente) indústria por lucros o faça perder sua qualidade (o bom e velho "se vender"). É uma preocupação até que justa, mas o problema é que às vezes se torna um tanto exagerada e pode ser levada a um ponto extremo: "assinou com gravadora, não escuto mais". "Tocou no rádio, não gosto mais". Lotou o show, não gosto mais". "As músicas da banda x agora tem refrão, que bosta. Não gosto mais" e por aí vai.
Temos que lembrar que se o camarada está trabalhando com música, ele quer viver dela. E, para isso, as pessoas têm que conhecer o seu trabalho. Ou uma padaria, um mercado ou uma loja que ninguém conhece conseguem vender algo?
Alguns artistas mantém suas características, outros mudam, tornando seu som "mais acessível" pra se adequar. Frisando que o "tornar-se acessível" nem sempre significa perder qualidade. O cara pode estar apenas transformando um som rebuscado demais em algo mais palatável e assobiável. Fora que o mercado está mudando e, para as bandas, é crucial terem muitos shows com bom público pagante, porque CD quase não vende e está virando peça de museu. Ou seja: o público tem que crescer.
O que me motivou a escrever isso foi um comentário que ouvi essa semana, parecido com uma das frases da comunidade que citei. A banda a qual a pessoa (conhecida de uma conhecida, e bem metida a intelectual) se referia era o Móveis Coloniais de Acaju, e essa pessoa disse que o disco novo é bom, mas a banda está ficando uma merda, PORQUE ESTÁ SE TORNANDO CONHECIDA.
Sinceramente: banda boa tem mais é que fazer sucesso. Não podemos reclamar do lixo musical que nos assola e ao mesmo tempo cuspir em algo bacana que está conseguindo seu espaço. É contraditório.
Se o cara tem talento e boas músicas, deixem-no tentar fazer sucesso. Ele só está querendo viver de sua arte. Deveríamos execrar o que é comprovadamente ruim, e está cheio disso por aí...

Um comentário:

  1. É mediocriadade intelectual mesmo. Se alguém que não um dos "iniciados" começa a ouvir a banda, logo eles parte pra descobrir a próxima Gema. Aconteceu com os Strokes por exemplo.
    E você deu ótimos exemplos. Eu queria incluir o Coldplay, que é um ótimo exemplo também do "bom pop".

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