domingo, 4 de outubro de 2009

DOSSIÊ EMO - PARTE 3: A EMOFOBIA


Vimos no post anterior que a chegada das bandas emo ao grande mercado trouxe uma grande quantidade de novos, digamos, seguidores para o movimento. Mas toda essa exposição e crescimento trouxe também um revés: a emofobia.
Mas quando isso se iniciou? Pelo menos no Brasil, muitos creditam o início da "aversão aos emos" a uma série de reportagens em diferentes veículos de mídia: a impressa e a televisiva, mais propriamente. Estes apontam três momentos-chave: o primeiro seria uma reportagem na revista Época de fevereiro de 2006 (cheguei a ler essa reportagem da Época na época - desculpem, a redundância se impunha). Ali, o emo estava descrito como aquele que curte som pesado,possui uma "sexualidade flexível" e sofre por amor, ou seja, os emos "Não escondem os sentimentos, expressam abertamente suas emoções, preconizam e praticam a tolerância sexual", nas palavras da reportagem. Depois foram transmitidas matérias sobre o assunto no Fantástico e no Domingo Legal, na linha "como identificar um emo". A partir daí, não tinha mais volta. A emofobia instala-se no Brasil com a mesma rapidez com que - e à medida que -as bandas e o movimento emo se tornam cada vez mais populares entre os adolescentes.
Na reportagem da época não vi nada demais,mas certamente as do Fantástico e Domingo Legal devem ter sido no estilo "sensacionalista", mas não posso afirmar, porque não as vi - ou não lembro se vi, vai saber.
Essa reportagem de Época até que é bem interessante. Consegui encontrar a revista por aqui e dei uma relida na dita cuja, que traz pontos de vista de emos, dos pais e de profissionais em educação e psicologia da juventude. Abaixo, alguns relatos colhidos na matéria:
"Os emos têm um estilo de vida compatível com minha sexualidade. São menos preconceituosos.Gosto de meninas, mas isso não me impede de achar o estilo de outro cara legal. Nossa sociedade é discriminadora."
"'Na rua, tem gente que me chama de sapatão.
"Já disseram que eu era gay e me chamaram de emocinha".
"Estranhei quando ele começou a pintar os olhos e as unhas', diz uma mãe de um adolescente emo que afirma ser bissexual. 'Fiquei deprimida quando ele me contou. Mas, mesmo sem aceitar, respeito a opção dele."
"'A atitude dos emos irrita outros jovens porque eles não temem os sentimentos, enquanto a maioria dos adolescentes busca afeto optando pela agressividade.Os punks ou funkeiros se impõem pela agressividade. Os emos querem se fazer aceitos pelo amor. É uma forma radical de reação contra o desencanto que vive a juventude."
Essa última fala é de uma doutora em Educação, e a deixei por último porque toca num ponto importante. É quase consenso entre vários especialistas (psicólogos, sociólogos, educadores) que estudam o assunto que o Emo incomoda porque toca num ponto delicado da cultura ocidental: os sentimentos. Em seus argumentos, eles dizem que nossa sociedade impõe, principalmente aos homens, que não se demonstre demasiadamente os sentimentos, pois seria uma sinal de fraqueza. Realmente, devo concordar: quase todos temos esse problema, pois realmente crescemos condicionados a isso. Eu mesmo me lembro de quantas vezes segurei um choro, mesmo sabendo que chorar não me faria menos homem. Ou seja: condicionamento ao meio, mesmo que de forma inconsciente. O emo, de certa forma, subverte essa lógica, ao pregar a exposição total dos sentimentos.
Mas sempre há um mas, porém, entretanto, contudo e um todavia. Vejamos o outro lado da moeda:
Alguns profissionais da área da psicologia e psiquiatria aceitam o argumento acima, mas com algumas ressalvas quanto a um traço forte do movimento: “Há uma apologia à tristeza no discurso emo, a melancolia é quase um estilo de vida para eles. Tudo bem, quando se trata apenas de uma atitude de contestação. Mas, a questão preocupa quando isso esconde alterações de ordem psíquica”, esclarece a médica Mônica Mulatinho, da Cia do Adolescente & Família, em Brasília.
Recentemente a Rússia, baseada em argumentos que acusam a cultura emo de induzir à depressão e ao suicídio, gerou polêmica ao decidir tomar uma atitude extrema: divulgou-se que iriam tomar medidas para proibir sites dedicados ao gênero e até o modo de se vestir em locais públicos.
Aparentemente, a questão do suicídio de jovens que se identificam com a cultura emo é mais forte lá fora do que aqui. Os emos brasileiros, APARENTEMENTE,têm uma ligação bem mais visual que ideológica ao movimento, mas me faltam fontes pra apurar melhor isso.
E assim terminamos o dossiê emo. Tentamos fazê-lo da maneira mais imparcial possível, sem preconceitos. Muitos perceberão que alguns assuntos não foram abordados de forma aprofundada, mas é proposital. Primeiro pelo espaço, senão viraria uma dissertação. Segundo porque alguns temas mexem com coisas bastante complicadas, como a questão da sexualidade, que é algo particular a cada pessoa e, como eu busco respeitar as opções de cada um, preferi não me aprofundar muito nos pontos a esse respeito.
Obrigado a todos que leram e até a próxima!

Um comentário:

  1. Você tocou num ponto que considero fundamental: a chamada "emofobia" na verdade é homofobia, ou puro machismo, que, como sabemos são praticados por homens e mulheres. Os emos, como parte da adolescência de hoje, têm uma característica interessante, que é mais do tolerância sexual, simplesmente, é mais uma liberdade sexual. Não se importam muito se as pessoas ou eles próprios são hetero, bi ou homossexuais. Ressalto que isso não é característica exclusiva deles; tenho amigos e amigas mais jovens que se encaixam nesse perfil. A geração deles já é diferente da minha nesse ponto, e acredito que os filhos da minha geração já expressarão essa liberdade de forma ainda mais forte.

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